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"Entre livros nasci. Entre livros me criei. Entre livros me formei. Entre livros me tornei. Enquanto lia o livro, lia-me, a mim, o livro. Hoje não há como separar: o livro sou eu - Bibliotecária por opção, paixão e convicção".

Lemos porque a necessidade de desvendar e questionar o desconhecido é muito forte em nós”

"O universo literário é sempre uma caixinha de surpresas, em que o leitor aos poucos vai recolhendo retalhos. Livros, textos, frases, poemas, enfim, variadas formas de expressão que vão compondo a colcha de retalhos de uma vida entre livros. É o que se propõe".

Inajá Martins de Almeida

assim...

"Quem me dera fossem minhas palavras escritas. Que fossem gravadas num livro, com pena de ferro e com chumbo. Para sempre fossem esculpidas na rocha! (Jó 19:23/24)

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“Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância.”

Fernando Pessoa - Poeta e escritor português (1888 - 1935)

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domingo, 9 de maio de 2010

MINHA MÃE

“Montou num querubim e voou;
sim, levada pelas asas do vento”. (Sl 18:50)


O tempo me fez profundas cicatrizes: umas pelos próprios rompantes avalassadores da juventude, outras tantas, nem ao menos sei explicá-las, mas estão aí e volta e meia me remetem a lembranças.

Umas quisera esquecê-las. Outras já não me incomodam e vão para a lixeira. Outras me tornam alegres. Outras tristes.

Algumas até me fazem chorar. Outras gargalhar. Entretanto, são minhas lembranças. Meus retalhos que ao longo do caminho fui recortando e montando colcha que, inacabada, continua sendo tecida.

Pedacinhos aqui, pedacinhos acolá. Pessoas. Frases soltas. Lugares. Passeios pela Internet. Recantos jamais visitados. Pessoas jamais pessoalmente encontradas. 

Amigos virtuais, que se tornaram reais. Amigos reais que se tornaram virtuais.






Minha mãe. Que orgulho de ti. 
Chegávamos da escola - meu irmão e eu. O momento registra. Meu pai, orgulhoso, fotografa-nos. Amava-nos sobremodo especial. Podia demonstrar. 
O sorriso franco de minha mãe. 
A segurança das mãos dadas.
Essa era minha mãe. Meu pai fotógrafo, quem o pode imaginar.
Lembranças...  Bairro Jaçanã - sim aquele que se eternizara no Trem das Onze de Adoniran Barbosa. 
Boas lembranças guardo de ti. Minha mãe. Meu pai que a mim deixou ano passado (2012) aos 94 anos.
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Minha mãe. Meu melhor e maior retalho. Não mais está mais comigo. Partira. Para onde fora, não me pudera levar... 

Perdas sentidas - pais, irmãos, filhos, amigos - foram agregando marcas num coração sofrido. Num coração, que ao ver da ciência, era disritmado. Era grande, enfim ... Era doente. Ah! coração. A levara!

Não me parecia, esse coração, possuir defeitos de fabricação.


Ele, a si traia. Deixava-se resplandecer através do luzeiro frontal. 

Seus olhos de cor indefinida - ora esverdeado, como águas límpidas de um riacho, ora cor de mel - resplandeciam a saltarem-lhe o rosto. Coração afora. 
Como podia ser disritmado, se batia compassivamente como uma melodiosa canção, através das palavras de sabedoria que sabia espargir em cada situação! 

Como podia ser doente, se sua vitalidade era infinita. Se seu gosto pela vida resplandecia nos seus trabalhos - crochês, tricôs, bordados, costuras, sem contar sua culinária deliciosa. 

Incansável. Jamais ociosa. Dizia não saber deixar as mãos inertes. Precisava mantê-las ocupadas.

Seu gosto estava em tecer toalhas coloridas. Presenteá-las a amigos, parentes. Com que orgulho entregava-as esperando elogios. Aguardando serem colocadas nas mesas para adorná-las, nas cômodas, aonde quer que seu destino fosse dado. 

Feliz manifestava: 

- Trabalhos executados pelas minhas próprias mãos.  

Ah! Quantos espalhados por aí. Quantos ainda os guardo.


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Para comigo manifestava prazer desmedido, quando eu elogiava seus trabalhos e os vestia - blusas, vestidos, quer bordados, quer em crochê, quer em tricô, quer cortados, montados e costurados em sua máquina de costura (adorava costurar também). 

Dizia às pessoas o gosto de fazer as coisas para minha filha, porque 

- "Ela está sempre a me elogiar. Ela gosta de tudo o que faço".

Ainda outro dia, ouvi um comentário de uma vizinha minha, que me disse que quando me vê, logo vem à lembrança minha mãe. Inseparáveis éramos aos olhos de todos. 


Jamais nos separávamos. Boas lembranças essas.

Ah! Voltando... Com a ciência. Claro, devo concordar... Ele (o coração) era grande, maior do que o convencional. Claro! Para caber tantos amigos, tantos sonhos, tantas lembranças, só mesmo um coração enorme, que jamais rejeitava o que quer que fosse.








Araras - julho de 1982. 
O bebê ao colo. Meu filho David. 
Alexandre neto primogênito a abraça, 
Juliana, a irmã, ao lado registra o momento. 
Três netos a vida lhe proporcionara. 
Dois filhos -esta que escreve (Inajá) e o filho Itabajara (que nos deixa em tenra idade (44 anos) em 1996. 
Não pudera conhecer os 5 binestos destes 3 netos
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Mãe, mulher, dona de casa completa. Tinha todos os atributos que uma mulher do seu tempo podia ter. 

Hoje essas raridades estão em extinção. 

Era uma autêntica dama, como já não mais se vê. Mulher virtuosa. Onde a poderemos encontrar? Eu, com certeza, tive o privilégio de encontrá-la, conhecê-la e manter uma convivência por mais de cinqüenta anos.

Sabia entrar em qualquer lugar. Sabia sair. Sabia agradar. Sabia cativar. Sabia ser mulher. Filha. Irmã. Esposa. Mãe. Avó. Amiga.


Vestia-se com aprumo. Vaidosa como deve ser uma mulher que gosta de si e da vida. Cabelos sempre aprumados - nenhum fio fora do lugar. A pele alva, sem pintura. Nos lábios o batom não podia faltar - dava um colorido especial ao rosto rosado, dizia. 

Porte altivo. Corpo elegante, de belas formas, altura ideal para uma mulher. O tom de voz suave, mas firme, encantava a todos.

Sua ausência se faz sentir em cada canto.


A cada qual sempre algo a dizer. Não ministrava conselhos. O exemplo a denunciava. 

O olhar, sempre sereno, deixava transparecer a alma que sorria, mesmo estando chorando. 


Sabia esconder as tristezas. Eram delas. Não as compartilhava. Sabia sofrer calada, jamais dividia com quem quer que fosse suas dores. 

Ah! Quantas vezes a vi chorando em silêncio, quando perdeu seu filho - meu irmão. Mas, quando eu dela me aproximava, logo dissimulava e a conversa tomava outros rumos. Chegávamos até a rir de nossas próprias dores. E podíamos trazer nossas boas memórias em família. Voltávamos a ser criança. 

Falávamos então de nossa infância, de nossas brincadeiras e a tristeza se tornava festa, pois éramos - os três, como costumava dizer - felizes, mesmo em meio a tantos dissabores que a vida pode nos proporcionar, numa época em que a doença a queria, prematuramente, levar. 

Era a São Paulo, calma e serena, dos lampiões de gás, dos bondes. Do quarto centenário. Flâmulas pelo ar. Festa. Desfile pelas avenidas.    

Tantas dificuldades que ela tão sabiamente soube transpor.


Três netos: David, Alexandre e Juliana
Cinco bisnetos: Rafaela, Ana Clara, Sofia, João Victor e Ana Júlia (calmamente dorme no aconchego da mamãe) - abril 2012  
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Dizer que não sinto sua falta ... mentira. Sinto e muita. 

Dizer que não choro vez ou outra? Não posso confessar. Choro sim. Choro e muito, como criança que necessita de um afago, de um carinho, de um colo. 

Quantas vezes choro por esse colo quentinho, aconchegante que já não me embala mais. Esse colo que me dava alento, que me dava descanso. Esse colo que tão bem me compreendia. Esse colo que perdoava minhas faltas. Que me levava para cima quando eu queria cair.

Ah! Mãe querida, que distância nos separa. Nós que éramos tão próximas, agora um abismo se formou. Já não ouço sua voz. Não sinto seu toque.

Mas, o choro cessa. As lágrimas param de correr rosto abaixo, e do fundo de minha alma, um sussurro sopra baixinho em meus ouvidos, dando completo alívio para minha dor, falando-me: 


- "Vinde a mim você que está cansada e sobrecarregada, que eu te aliviarei, porque suave é meu jugo, leve é meu fardo".

Recosto minha cabeça em seu regaço. Em seu colo me aconchego e um sopro divino penetra meu ser, e me faz adormecer. 

Mãos generosas seguram as minhas e me levam às águas tranquilas. Sara minha dor e me dá novo alento. 

É a mão misericordiosa do nosso Senhor Jesus Cristo.


Ele dá grandes vitórias...
e usa de benignidade...
para com [Inajá] e sua posteridade, para sempre" Sl 18:10 




Texto de Inajá Martins de Almeida


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As Mais Belas:

Mário Barreto França


Qual a mulher mais bonita

Que há no mundo, meus senhores?

Será uma senhorita

Cheia de prendas e primores?



Será a loira ou a morena?

A de olhos azuis ou pretos?

Será a grande ou a pequena?

Ou a de modos discretos?



Das distintas e elegantes,

Das de faces cor de rosa,

Das de sorrisos brilhantes,

Qual será a mais formosa?



Sem medo de errar eu digo:

Cheias de amor mais profundo,

As mais belas, meu amigo,

São as mães de todo mundo!






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