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"Entre livros nasci. Entre livros me criei. Entre livros me formei. Entre livros me tornei. Enquanto lia o livro, lia-me, a mim, o livro. Hoje não há como separar: o livro sou eu - Bibliotecária por opção, paixão e convicção".

Lemos porque a necessidade de desvendar e questionar o desconhecido é muito forte em nós”

"O universo literário é sempre uma caixinha de surpresas, em que o leitor aos poucos vai recolhendo retalhos. Livros, textos, frases, poemas, enfim, variadas formas de expressão que vão compondo a colcha de retalhos de uma vida entre livros. É o que se propõe".

Inajá Martins de Almeida

assim...

"Quem me dera fossem minhas palavras escritas. Que fossem gravadas num livro, com pena de ferro e com chumbo. Para sempre fossem esculpidas na rocha! (Jó 19:23/24)

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“Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância.”

Fernando Pessoa - Poeta e escritor português (1888 - 1935)

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terça-feira, 13 de novembro de 2012

ENCONTRO LITERÁRIO EM RIBEIRÃO PRETO 2006

Em junho de 2006, tive a oportunidade de participar de um encontro sobre Literatura infanto-juvenil, na cidade de Ribeirão Preto.
Naquele momento, apontamentos puderam registrar minhas impressões ante falas e cenas.
Os anos transcorreram agora os trago a este blog, quando após relê-los e efetuar pequenas alterações, julgo ser interessante este registro.
As protagonistas Eva Furnari, Angela Lago, Roseana Murray e Heloisa Pires Lima representam a tônica central deste esboço
As imagens foram capturadas da internet e montadas nesse painel, podendo ser visualizadas em tamanho maior, clicando-se sobre a mesma.

Vamos adentrar ao universo mágico da literatura?
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1. EVA FURNARI 
Com o tema Cacoete: uma reflexão sobre os tempos atuais, apresenta – segundo seu olhar de “artista criadora mais do que acadêmica e teórica” como se auto qualifica – um apanhado de transformações porque passaram os séculos, adentrando a nossa realidade atual. 
Por pensar com imagens, seus livros são ricamente ilustrados mostrando as nuances dessas fases.
Logo no início de sua fala nos diz que “compreendia o mundo muito mais através do olhar, das imagens,  do que das palavras”, o que adquirira antes mesmo de tomar conhecimento das letras.
Sua formação em arquitetura e a convivência com um colega de escola, que ao querer namorá-la, ao invés de falar-lhe, manda-lhe uma série de desenhos, desperta, assim, sua sensibilidade de artista, um gosto que viria posteriormente a ser levado aos livros que passa a escrever.
Em meio às falas, passa-nos um conto chinês sobre o pote vazio, também retratado no livro “A semente da verdade” de Patrícia Engel Secco, momento em que exorta que devemos ensinar às crianças valores éticos e morais; incutir-lhes o prazer da leitura, não como um fardo para cumprir cronogramas pragmáticos.
Ao se referir ao tempo e sua crueldade, diz que os valores hoje invertidos, “não nos permiti mais envelhecer; temos de permanecer eternamente bem e belos, há uma busca pelo corpo físico; não temos tempo de nos interiorizar, porém o estar bem é estar em harmonia”.
O que ficou dessa fala é que devemos rever certos valores impostos, mudar hábitos.
Deixou-nos então uma questão: 
- “Como me sinto hoje em relação ao passado?”.
Para fechar o tema, a equipe Tantas Palavras apresentou o clip “Livros” de Caetano Veloso, apresentação magistral, onde as cenas se passam dentro da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.



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2- ANGELA LAGO 
Vem com a magia das histórias que fazem sacudir o esqueleto, tema de um dos seus livros, ricamente ilustrado. 
Logo na sua primeira fala, deixa transparecer uma sensibilidade impar quando diz “eu tenho a criança como mestre. Nas crianças vou encontrar uma inspiração e uma possibilidade que não teria sem elas”.
Incrível percepção visual e como a coloca em suas obras, ao expressar que o narrador visual, seja criança ou não, enquanto leitor, ao entrar no livro modifica sua história, daí o interessante de se “estar construindo uma ideia do leitor co-autor quando fala do leitor narrador”, uma vez que “nunca vamos narrar uma história de uma única forma”.
Aponta o tempo da narrativa porque “não existe história sem tempo. O tempo é o grande herói da nossa história”.
Quando fala em mensagens metafóricas, diz que “as crianças são capazes de desmistificar uma metáfora visual, porque uma metáfora traz sempre uma informação que modifica o resto da imagem”.
Apresenta um dos seus livros “A raça perfeita”, onde coloca a mutação genética porque passam os animais e dá um grito de alerta para as gerações futuras.
Outro aspecto de destaque, no momento em que disse que não devemos subestimar a paciência do leitor; quando vamos contar-lhe ou narrar-lhe algo, jamais devemos nos prolongar nas chamadas, assim se expressando: “e caminhavam... e caminhavam... e caminhavam...............”.
Um clip de Elis Regina fecha com chave de ouro a apresentação da escritora. O prof.Arquilau Moreira Romão, organizador do evento, no afã da apresentação exorta a frase de Cecília Meireles em que esta diz “que a vida só é possível se reinventada”, introduzindo a próxima apresentação.


Angela Maria Cardoso Lago (Belo Horizonte1945) é uma escritora e ilustradora brasileiracontinue em
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3. ROSEANA MURRAY
Valendo-se de Cecília Meireles, inicia sua fala – “não sou alegre nem triste; sou poeta”. Isso para mostrar seu lado “pessimista” de ver a vida. Interessante uma de suas observações quando diz que a sociedade atual nos cobra uma felicidade em tempo integral. “Temos de ser felizes vinte e quatro horas por dia, quando isso é impossível”.
Por sua descendência judaica, explica seu lado mais real das coisas. Envolvida em projetos de leitura diz que “a literatura é generosa para abrir a porta que vai desaguar no outro e se uma pessoa sabe ler um texto literário, esta sabe ler qualquer texto que existe”.
Vai mais além ao afirmar que “a leitura não pode ser apenas um evento, mas tem de ser um tempo de construção: pouco a pouco”.
Sua experiência de trabalhar com a leitura em escolas municipais, onde o fluxo de crianças carentes é muito grande, isto na pequena cidade de Saquarema, onde reside atualmente, a fez enxergar que “quando se faz um trabalho contínuo de leitura, nós vamos vendo cada vez mais”.
Com relação à sociedade de consumo a que estamos expostos atualmente, onde livros, revistas, toda sorte de informação nos são impostas diariamente – temos de ser informados, temos de conhecer tudo, temos de perceber e discernir entre o que é de real importância, e o que não deve ser levado em consideração – faz um alerta ao expressar que  “temos de ser um grande leitor para saber o que importa de verdade, porque estamos numa sociedade de consumo. Quando somos um bom leitor, conseguimos olhar a teia de aranha e não pular dentro dela”.
Referindo-se então a fala da Eva Furnari, onde a sociedade nos impõe um não envelhecimento, diz que temos de tomar cuidado para envelhecermos com dignidade e isso é possível, enquanto que “como leitores, temos a capacidade de resistir a toda esta sociedade que nos engana, uma vez que a verdadeira felicidade é invisível e é ela que alimenta nossa alma”.
Seu prazer e seu envolvimento com projetos de leitura é gritante; extravasa por todo seu corpo, pela sua voz, pelo seu semblante quando nos exorta que a “leitura é um espaço de liberdade” e que “temos de compartilhar um texto” além do mais um livro sempre quer nos falar alguma coisa e para tanto “para ouvir o livro, temos de fazer um silêncio interno”.
Como tantas pessoas envolvidas com leitura e preocupadas com as gerações futuras, não deixa de falar que “hoje o importante é um ser criativo que saiba ler e entender”.
Para concluir sua fala, apresenta-nos um conto seu e fala da dificuldade em se expressar em outras formas literárias que não a poesia. Gosta de frases curtas, ritmadas, porém, em alguns momentos se expressa através de contos.
Aí nos premia com um deles, extraído do seu livro “Território dos sonhos”, onde numa autobiografia nos faz um relato de uma criança introvertida que se torna anjo de um tio carente que acabara de perder a mulher e a filha recém-nascida.
O silêncio se faz total; as emoções bailam no espaço em meio à fala mansa da autora. Momento de verdadeiro devaneio literário. Deixa-nos então uma questão no ar para reflexionarmos:
- “E vocês... de quem vocês são anjos?”
A equipe Tantas Palavras, abre a fala da escritora com o clip Pensamento do grupo Raça Negra e fecha com Gilberto Gil e a composição A paz.

(Enquanto preparava os apontamentos para postagem, eis que uma luz verde me chama atenção: é Roseana que se encontra on-line. É a tecnologia compactuando a nosso favor. Breve conversa. Momento de reencontro saudoso. Eu apenas uma participante dentre tantas outras naquele evento. Ela uma referência a tantos quantos me ouvem ou me leem, quando então me premia com a frase: 
"...quando se é um bom leitor, percebe-se a teia da aranha, porém não cai dentro dela..."   
Bom rever este texto. Bom relembrar as cenas. O envolvimento naquele instante. É a literatura que irmana. Aproxima. Torna partícipes os participantes. Obrigada amiga escritora. Escritora amiga). 


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4. HELOISA PIRES LIMA
Apresenta seu livro a semente que veio da África: educando com equidade”, lenda sobre o baobá da África, porém o que a autora realmente quis nos dizer é que há uma “falta de equidade entre o repertório que apresentamos para nosso leitor”.
Por ser de descendência negra, encontrou essa dificuldade, quando seu filho lhe cobrava livros e leituras em que o negro não fosse apenas apresentado como escravo, sendo humilhado nas senzalas, nos troncos, etc.
Em meio a suas falas, faz-nos uma reflexão sobre o tema e nos exorta a pensar em quais circunstâncias os negros e os índios são apresentados nas diversas literaturas.
Daí uma realidade agressiva, gritante que a literatura nos impôs e nos deixou uma questão na qual devemos “pensar na biblioteca que apresentamos para nossos filhos, nossos alunos, nossos educadores”.
Outro questionamento interessante, é quando instiga a platéia a fechar os olhos,  voltar a  infância e juventude e rememorar os livros inesquecíveis. Dentre um e outro, ao final, deixou-nos uma questão, propondo-nos a nos imaginar naquele personagem, naquela história que nos ficou na lembrança e o que havia de comum nas situações vividas a partir de então. Por ser psicopedagoga conseguiu adentrar no inconsciente coletivo.
De minha parte, num breve momento, numa reflexão rápida, consegui perceber que ao tornar inesquecível um personagem criado por um autor, por mim lido em minha adolescência, muito do que meu inconsciente absorveu dali, em outro momento foi transformado em realidade e já não era mais a leitora e sim a co-autora: o personagem incorporara em mim. Aqueles já não eram mais os personagens de ficção, mas eram a minha própria vida.
Jamais pudera supor, num encontro literário, encontrasse uma análise dessa monta. Isso inclusive expus para a autora e disse-lhe que tomaria como exemplo para estar passando a outras pessoas.

Algumas observações extras :

Para a antropóloga e escritora Heloisa Pires Lima, ao longo do século 20, as representações dos negros nos livros infanto-juvenis brasileiros foram muito limitadas, refletindo - e, às vezes, denunciando - as condições dessas pessoas na sociedade. "Na literatura, os papéis reservados aos negros eram de personagens escravizados, folclóricos ou submetidos a situações de exploração e miséria, como as empregadas domésticas e os meninos de rua". continue em

O baobá também é conhecido como a árvore da sabedoria, pois quando você senta debaixo de um baobá, você faz um elo com o Criador e clareia suas ideias... continue em


(Infelizmente não encontrei postagens no you tube) 
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Este é o mundo mágico da leitura, ao ponto de proporcionar descobertas, encontros conosco mesmo, quem sabe até desencontros.
Esse nosso amor, essa paixão, esse gosto infinito que salta nosso ser, temos de passar para outros.
Esse é um legado que jamais nos será roubado, ele é nosso.  
Foi realmente um sábado rico em aprendizado. Um momento muito proveitoso.

Apontamentos, comentários, pesquisas extras e postagens de Inajá Martins de Almeida

terça-feira, 6 de novembro de 2012

PAPÉIS VELHOS - VELHOS PAPÉIS - Inajá Martins de Almeida

Papéis velhos / Velhos papéis.
Cá estou às voltas com eles. 

Reviro: - Leio alguns enquanto agrupo outros.

Papéis velhos misturam-se às minhas memórias;
Agrupam-se a velhos papéis.

De lá para cá - seguem. Enfileram-se. 
Mal cheirosos papéis velhos.

Lembranças passadas - o passado pensou apagar
Mas o passado não quer apagar.

Papéis velhos
Tornam velhos os papéis a me tirar o sossego.

Estanco. Retroajo.
Por que papéis velhos? 

E volto a remexer; rasgar alguns.
Tornam-se velhos papéis outros.

E ao perguntar - por que? reflexiono - para que?
Papéis velhos a representar velhos papéis.

Percebo em papéis velhos retalhos alinhavados
no grande tear da existência.

E ao tecer velhos papéis, retalhos passados
entretecem as linhas da colcha.

Retalhos de vida entre lãs, linhas e livros que, ao transformarem-se em papéis velhos
passam a representar velhos papéis.

Metamorfose de velhos papéis
Em papéis velhos.

clique sobre a imagem
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Poema, formatação e postagem de Inajá |Martins de Almeida
São Carlos 05/11/2012