"Entre livros nasci. Entre livros me criei. Entre livros me formei. Entre livros me tornei. Enquanto lia o livro, lia-me, a mim, o livro. Hoje não há como separar: o livro sou eu - Bibliotecária por opção, paixão e convicção".
Lemos porque a necessidade de desvendar e questionar o desconhecido é muito forte em nós”
"O universo literário é sempre uma caixinha de surpresas, em que o leitor aos poucos vai recolhendo retalhos. Livros, textos, frases, poemas, enfim, variadas formas de expressão que vão compondo a colcha de retalhos de uma vida entre livros. É o que se propõe".
Inajá Martins de Almeida
assim...
"Quem me dera fossem minhas palavras escritas. Que fossem gravadas num livro, com pena de ferro e com chumbo. Para sempre fossem esculpidas na rocha! (Jó 19:23/24)
Em
junho de 2006, tive a oportunidade de participar de um encontro sobre
Literatura infanto-juvenil, na cidade de Ribeirão Preto.
Naquele momento, apontamentos puderam registrar minhas impressões ante falas e cenas.
Os anos transcorreram
agora os trago a este blog, quando após relê-los e efetuar pequenas alterações,
julgo ser interessante este registro. As protagonistas Eva Furnari, Angela
Lago, Roseana Murray e Heloisa Pires Lima representam a tônica central deste esboço.
As imagens foram capturadas da internet e montadas nesse painel, podendo ser visualizadas em tamanho maior, clicando-se sobre a mesma.
Vamos
adentrar ao universo mágico da literatura?
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1. EVA FURNARI Com o tema Cacoete: uma
reflexão sobre os tempos atuais, apresenta – segundo seu olhar de “artista criadora mais do que acadêmica e
teórica” como se auto qualifica – um apanhado de transformações porque
passaram os séculos, adentrando a nossa realidade atual. Por pensar com imagens,
seus livros são ricamente ilustrados mostrando as nuances dessas fases.
Logo no início de sua fala nos diz que “compreendia o mundo muito mais através do
olhar, das imagens, do que das palavras”,
o que adquirira antes mesmo de tomar conhecimento das letras.
Sua formação em arquitetura e a convivência
com um colega de escola, que ao querer namorá-la, ao invés de falar-lhe,
manda-lhe uma série de desenhos, desperta, assim, sua sensibilidade de artista,
um gosto que viria posteriormente a ser levado aos livros que passa a escrever.
Em meio às falas, passa-nos um conto chinês
sobre o pote vazio, também retratado no livro “A semente da verdade” de
Patrícia Engel Secco, momento em que exorta que devemos ensinar às crianças
valores éticos e morais; incutir-lhes o prazer da leitura, não como um fardo
para cumprir cronogramas pragmáticos.
Ao se referir ao tempo e sua crueldade, diz
que os valores hoje invertidos, “não nos permiti
mais envelhecer; temos de permanecer eternamente bem e belos, há uma busca pelo
corpo físico; não temos tempo de nos interiorizar, porém o estar bem é estar em
harmonia”.
O que ficou dessa fala é que devemos rever
certos valores impostos, mudar hábitos.
Deixou-nos então uma questão: - “Como me sinto hoje em relação ao passado?”.
Para
fechar o tema, a equipe Tantas Palavras apresentou o clip “Livros” de Caetano
Veloso, apresentação magistral, onde as cenas se passam dentro da Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro.
2- ANGELA LAGO Vem com a magia das histórias
que fazem sacudir o esqueleto, tema de um dos seus livros, ricamente ilustrado. Logo na sua primeira fala, deixa transparecer uma sensibilidade impar quando
diz “eu tenho a criança como mestre. Nas
crianças vou encontrar uma inspiração e uma possibilidade que não teria sem
elas”.
Incrível percepção visual e como a coloca
em suas obras, ao expressar que o narrador visual, seja criança ou não, enquanto
leitor, ao entrar no livro modifica sua história, daí o interessante de se “estar construindo uma ideia do leitor
co-autor quando fala do leitor narrador”, uma vez que “nunca vamos narrar uma história de uma única forma”.
Aponta o tempo da narrativa porque “não existe história sem tempo. O tempo é o
grande herói da nossa história”.
Quando fala em mensagens metafóricas, diz
que “as crianças são capazes de
desmistificar uma metáfora visual, porque uma metáfora traz sempre uma
informação que modifica o resto da imagem”.
Apresenta um dos seus livros “A raça
perfeita”, onde coloca a mutação genética porque passam os animais e dá um
grito de alerta para as gerações futuras.
Outro aspecto de destaque, no momento em
que disse que não devemos subestimar a paciência do leitor; quando vamos
contar-lhe ou narrar-lhe algo, jamais devemos nos prolongar nas chamadas, assim
se expressando: “e caminhavam... e caminhavam... e caminhavam...............”.
Um clip de Elis Regina fecha com chave de
ouro a apresentação da escritora. O prof.Arquilau Moreira Romão, organizador do
evento, no afã da apresentação exorta a frase de Cecília Meireles em que esta
diz “que a vida só é possível se
reinventada”, introduzindo a próxima apresentação.
Valendo-se de Cecília Meireles, inicia sua
fala – “não sou alegre nem triste; sou
poeta”. Isso para mostrar seu lado “pessimista” de ver a vida. Interessante
uma de suas observações quando diz que a sociedade atual nos cobra uma
felicidade em tempo integral. “Temos de
ser felizes vinte e quatro horas por dia, quando isso é impossível”.
Por sua descendência judaica, explica seu
lado mais real das coisas. Envolvida em projetos de leitura diz que “a literatura é generosa para abrir a porta
que vai desaguar no outro e se uma pessoa sabe ler um texto literário, esta
sabe ler qualquer texto que existe”.
Vai mais além ao afirmar que “a leitura não pode ser apenas um evento, mas
tem de ser um tempo de construção: pouco a pouco”.
Sua experiência de trabalhar com a leitura
em escolas municipais, onde o fluxo de crianças carentes é muito grande, isto
na pequena cidade de Saquarema, onde reside atualmente, a fez enxergar que “quando se faz um trabalho contínuo de
leitura, nós vamos vendo cada vez mais”.
Com relação à sociedade de consumo a que
estamos expostos atualmente, onde livros, revistas, toda sorte de informação
nos são impostas diariamente – temos de ser informados, temos de conhecer tudo,
temos de perceber e discernir entre o que é de real importância, e o que não
deve ser levado em consideração – faz um alerta ao expressar que “temos
de ser um grande leitor para saber o que importa de verdade, porque estamos
numa sociedade de consumo. Quando somos um bom leitor, conseguimos olhar a teia
de aranha e não pular dentro dela”.
Referindo-se então a fala da Eva Furnari,
onde a sociedade nos impõe um não envelhecimento, diz que temos de tomar
cuidado para envelhecermos com dignidade e isso é possível, enquanto que “como leitores, temos a capacidade de
resistir a toda esta sociedade que nos engana, uma vez que a verdadeira
felicidade é invisível e é ela que alimenta nossa alma”.
Seu prazer e seu envolvimento com projetos
de leitura é gritante; extravasa por todo seu corpo, pela sua voz, pelo seu
semblante quando nos exorta que a “leitura
é um espaço de liberdade” e que “temos
de compartilhar um texto” além do mais um livro sempre quer nos falar
alguma coisa e para tanto “para ouvir o
livro, temos de fazer um silêncio interno”.
Como tantas pessoas envolvidas com leitura
e preocupadas com as gerações futuras, não deixa de falar que “hoje o importante é um ser criativo que
saiba ler e entender”.
Para concluir sua fala, apresenta-nos um
conto seu e fala da dificuldade em se expressar em outras formas literárias que
não a poesia. Gosta de frases curtas, ritmadas, porém, em alguns momentos se
expressa através de contos.
Aí nos premia com um deles, extraído do seu
livro “Território dos sonhos”, onde numa autobiografia nos faz um relato de uma
criança introvertida que se torna anjo de um tio carente que acabara de perder
a mulher e a filha recém-nascida.
O silêncio se faz total; as emoções bailam
no espaço em meio à fala mansa da autora. Momento de verdadeiro devaneio
literário. Deixa-nos então uma questão no ar para reflexionarmos:
- “E vocês... de quem vocês são anjos?”
A equipe Tantas Palavras, abre a fala da
escritora com o clip Pensamento do grupo Raça Negra e fecha com Gilberto Gil e
a composição A paz. (Enquanto preparava os apontamentos para postagem, eis que uma luz verde me chama atenção: é Roseana que se encontra on-line. É a tecnologia compactuando a nosso favor. Breve conversa. Momento de reencontro saudoso. Eu apenas uma participante dentre tantas outras naquele evento. Ela uma referência a tantos quantos me ouvem ou me leem, quando então me premia com a frase: "...quando se é um bom leitor, percebe-se a teia da aranha, porém não cai dentro dela..." Bom rever este texto. Bom relembrar as cenas. O envolvimento naquele instante. É a literatura que irmana. Aproxima. Torna partícipes os participantes. Obrigada amiga escritora. Escritora amiga).
4. HELOISA PIRES LIMA Apresenta seu livro a semente que veio da África: educando com equidade”, lenda
sobre o baobá da África, porém o que a autora realmente quis nos dizer é que há
uma “falta de equidade entre o repertório
que apresentamos para nosso leitor”.
Por ser de
descendência negra, encontrou essa dificuldade, quando seu filho lhe cobrava
livros e leituras em que o negro não fosse apenas apresentado como escravo,
sendo humilhado nas senzalas, nos troncos, etc.
Em meio a suas
falas, faz-nos uma reflexão sobre o tema e nos exorta a pensar em quais
circunstâncias os negros e os índios são apresentados nas diversas literaturas.
Daí uma
realidade agressiva, gritante que a literatura nos impôs e nos deixou uma
questão na qual devemos “pensar na
biblioteca que apresentamos para nossos filhos, nossos alunos, nossos
educadores”.
Outro questionamento interessante, é
quando instiga a platéia a fechar os olhos,
voltar a infância e juventude e
rememorar os livros inesquecíveis. Dentre um e outro, ao final, deixou-nos uma
questão, propondo-nos a nos imaginar naquele personagem, naquela história que
nos ficou na lembrança e o que havia de comum nas situações vividas a partir de
então. Por ser psicopedagoga conseguiu adentrar no inconsciente coletivo.
De minha parte, num breve momento,
numa reflexão rápida, consegui perceber que ao tornar inesquecível um
personagem criado por um autor, por mim lido em minha adolescência, muito do
que meu inconsciente absorveu dali, em outro momento foi transformado em
realidade e já não era mais a leitora e sim a co-autora: o personagem
incorporara em mim. Aqueles já não eram mais os personagens de ficção, mas eram
a minha própria vida.
Jamais pudera supor, num encontro
literário, encontrasse uma análise dessa monta. Isso inclusive expus para a
autora e disse-lhe que tomaria como exemplo para estar passando a outras
pessoas.
Algumas observações extras : Para a antropóloga e escritora Heloisa Pires Lima, ao longo do século 20, as representações dos negros nos livros infanto-juvenis brasileiros foram muito limitadas, refletindo - e, às vezes, denunciando - as condições dessas pessoas na sociedade. "Na literatura, os papéis reservados aos negros eram de personagens escravizados, folclóricos ou submetidos a situações de exploração e miséria, como as empregadas domésticas e os meninos de rua". continue em O baobá também é conhecido como a árvore da sabedoria, pois quando você senta debaixo de um baobá, você faz um elo com o Criador e clareia suas ideias... continue em
(Infelizmente não encontrei postagens no you tube)
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Este é o mundo mágico da leitura, ao
ponto de proporcionar descobertas, encontros conosco mesmo, quem sabe até desencontros.
Esse nosso amor, essa paixão, esse
gosto infinito que salta nosso ser, temos de passar para outros.
Esse é um legado que jamais nos será
roubado, ele é nosso.
Foi
realmente um sábado rico em aprendizado. Um momento muito proveitoso.
Apontamentos, comentários, pesquisas extras e postagens de Inajá Martins de Almeida
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