Eclesiastes (1.000 aC - aprox.)
Tudo tem seu tempo próprio
e há momento adequado para todo propósito debaixo do céu:
Tempo de nascer,
tempo d morrer,
tempo de plantar,
tempo de arrancar o que se plantou;
tempo de matar,
tempo de curar
tempo de procurar
tempo de perder
...
tempo de abraçar,
tempo de afastar-se de abraçar
...
tempo de estar em silêncio,
tempo de falar,
tempo de amar,
tempo de odiar,
tempo de guerra
tempo de paz
...
O que é, já existiu;
e o que está para ser também já existiu;
e Deus pede conta do que já se passou.
...
Vi que não há nada melhor para o homem
do que se alegrar com as suas obras;
porque essa é a sua alegria;
pois quem o trará de volta
para ver o que será depois dele?
(Adaptação do Livro de Eclesiastes cap.3 vers.1/22)
SONETO
Frei Antônio das Chagas (1631-1682)
Deus pede hoje estrita conta do meu tempo
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas como dar, sem tempo, tanta conta
Eu que gastei sem conta tanto tempo?
Para ter minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado e não fiz conta.
Não quis, tendo tempo, fazer conta.
Hoje quero fazer conta e não há tempo.
Oh! Vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo em fazer conta.
Pois aqueles que sem conta gastam tempo,
Quando o tempo chegar de prestar conta,
Chorarão, como eu, se não der tempo.
http://www.avspe.eti.br/coutinho/mestres/FreiAntoniodasChagas.htm
CONTA E TEMPO
Laurindo Rabelo (1826-1864)
Deus pede estrita conta do meu tempo
É forçoso do tempo já dar conta;
Mas, como dar sem tempo tanta conta
Eu, que gastei sem conta tanto tempo!
Para Ter minha conta feita a tempo
Dado me foi bom tempo e não fiz nada
Não quis sobrando tempo fazer conta
Quero hoje fazer conta e falta tempo.
Ó vós que tendes tempo sem Ter conta,
Não gasteis esse tempo em passatempo:
Cuidai enquanto é tempo em fazer conta
Mas, ah! Se os que contam com seu tempo
Fizessem desse tempo alguma conta
Não choravam como eu o não Ter tempo!
http://arnaldovcarvalho.wordpress.com/2010/12/16/1043/
A CONTA DO TEMPO
Inajá Martins de Almeida (1950-
I
A conta do meu tempo,
Quantas vezes, sob pressão, obrigada fui dar conta;
Sem tempo para tanta conta,
Quanta conta fiz, que nem percebi o passar do tempo.
Enquanto fazia a conta do tempo,
Deixava o tempo rolar sem fazer conta;
Esquecendo o tempo, mal pudera supor que o que se conta,
É o que se perde e de volta não trás o tempo.
Por conta de tanta conta, ocupava o tempo,
E da exaustão não me dava conta;
Era-me forçoso apenas dar conta em tempo.
Para resgatar o passado, esquecido no tempo,
Percebi a conta do que não fizera, ou pudera fazer conta.
II
Se pudesse voltar ao tempo,
E entender o que se conta,
Na certa não gastaria sem conta,
A conta que nos reserva o tempo.
Saberia que a cada qual, fora dado sua conta:
Cada conta com seu tempo;
Conta de passatempo,
Tempo de faz-de-conta.
Início, meio e fim conta o tempo;
A todos, sua conta
Que, a seu tempo, terá de prestar conta.
E, enquanto há roubadores do tempo, sem conta,
Multiplicadores de conta no tempo,
Há quem não faz conta e perde o tempo.
III
Não posso, contudo, saber se minha conta,
Inevitável fora ao tempo,
Pois, envolvida no torvelinho do tempo,
Mal tinha tempo para perceber e fazer conta.
Deixava-me levar pela conta do tempo:
Ora prestava conta,
Ora o tempo levava a conta;
E assim, a conta fazia o tempo.
Tempo perdido na conta,
Na conta que não se conta;
Na conta que consumiu o tempo.
Tempo de contratempo,
Conta que subtraiu o tempo;
Tempo apenas que fêz-de-conta.
IV
Hoje, contudo, o passado tempo,
Faz conta do que se conta;
Espera o futuro sem conta,
Na conta, da contra mão do tempo.
Tempo que a esperança conta,
De um encontro além do tempo,
Com Aquele que é dono do tempo,
E que, de nossas contas, faz tanta conta.
Aquele que deu nova vida ao tempo;
Apagou toda má conta,
Deu início a um novo tempo.
Tempo de renovo que se conta,
Num vaso novo a prova do tempo;
Numa vida eterna, que o tempo não conta.
V
E se o tempo ainda me pedir conta,
Do que fiz, do que deixei de fazer a tempo,
Direi que já não tenho mais tempo,
Para perder tempo em fazer conta.
Que um novo sentido encontrei, para o meu tempo,
E isso é o que se conta;
Não me preocupo em prestar tanta conta,
Se agora eterno é meu tempo.
Do futuro não faço mais conta,
Pensar no passado, não sobra tempo;
O presente é o que se conta.
Não vivo ansiosa com a falta de tempo,
Não preciso mais prestar tanta conta;
Jesus me embala nos Seus braços, todo o tempo.
Fonte: http://www.webartigos.com/articles/6343/1/A-Conta-Do-Tempo/pagina1.html#ixzz1H8BTujqu
3 comentários:
Mas tenho certeza Inajá, que teu tempo não foi outro se não aquele que haveria de ter sido... desde a fundação do mundo.
Não vivemos pela sorte, mas pela graça.
achei lindo e de grande sabedoria. lhar para trás por um breve momento e pensar no que valeu para aprendizado, o que valeu para se fazer diferente. Gosto dessa frase:
“Não voltar a fazer determinada coisa é a
essência do mais verdadeiro
arrependimento”
(Martinho Lutero)
e adorei a metrificação de sua última poesia..
bjs
Aline
Aline querida amiga
Obrigada pelas palavras delicadas e carinhosas. É bom e gratificante sabê-la a ler meus escritos. Um beijo
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