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"Entre livros nasci. Entre livros me criei. Entre livros me formei. Entre livros me tornei. Enquanto lia o livro, lia-me, a mim, o livro. Hoje não há como separar: o livro sou eu - Bibliotecária por opção, paixão e convicção".

Lemos porque a necessidade de desvendar e questionar o desconhecido é muito forte em nós”

"O universo literário é sempre uma caixinha de surpresas, em que o leitor aos poucos vai recolhendo retalhos. Livros, textos, frases, poemas, enfim, variadas formas de expressão que vão compondo a colcha de retalhos de uma vida entre livros. É o que se propõe".

Inajá Martins de Almeida

assim...

"Quem me dera fossem minhas palavras escritas. Que fossem gravadas num livro, com pena de ferro e com chumbo. Para sempre fossem esculpidas na rocha! (Jó 19:23/24)

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“Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância.”

Fernando Pessoa - Poeta e escritor português (1888 - 1935)

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domingo, 20 de março de 2011

A CONTA DO TEMPO - em quatro versões

TEMPO PARA TUDO
                                          Eclesiastes (1.000 aC - aprox.)
Tudo tem seu tempo próprio
e há momento adequado para todo propósito debaixo do céu:
Tempo de nascer,
tempo d morrer,
tempo de plantar,
tempo de arrancar o que se plantou;
tempo de matar,
tempo de curar
tempo de procurar
tempo de perder
...
tempo de abraçar,
tempo de afastar-se de abraçar
...
tempo de estar em silêncio,
tempo de falar,
tempo de amar,
tempo de odiar,
tempo de guerra
tempo de paz
...
O que é, já existiu;
e o que está para ser também já existiu;
e Deus pede conta do que já se passou.
...
Vi que não há nada melhor para o homem
do que se alegrar com as suas obras;
porque essa é a sua alegria;
pois quem o trará de volta
para ver o que será depois dele?
                                   (Adaptação do Livro de Eclesiastes cap.3 vers.1/22)

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SONETO
                                 Frei Antônio das Chagas (1631-1682)

Deus pede hoje estrita conta do meu tempo
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas como dar, sem tempo, tanta conta
Eu que gastei sem conta tanto tempo?

Para ter minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado e não fiz conta.
Não quis, tendo tempo, fazer conta.
Hoje quero fazer conta e não há tempo.

Oh! Vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo em fazer conta.

Pois aqueles que sem conta gastam tempo,
Quando o tempo chegar de prestar conta,
Chorarão, como eu, se não der tempo.

http://www.avspe.eti.br/coutinho/mestres/FreiAntoniodasChagas.htm
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CONTA E TEMPO
                                      Laurindo Rabelo (1826-1864)

Deus pede estrita conta do meu tempo
É forçoso do tempo já dar conta;
Mas, como dar sem tempo tanta conta
Eu, que gastei sem conta tanto tempo!

Para Ter minha conta feita a tempo
Dado me foi bom tempo e não fiz nada
Não quis sobrando tempo fazer conta
Quero hoje fazer conta e falta tempo.

Ó vós que tendes tempo sem Ter conta,
Não gasteis esse tempo em passatempo:
Cuidai enquanto é tempo em fazer conta

Mas, ah! Se os que contam com seu tempo
Fizessem desse tempo alguma conta
Não choravam como eu o não Ter tempo!

http://arnaldovcarvalho.wordpress.com/2010/12/16/1043/
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A CONTA DO TEMPO
                                              Inajá Martins de Almeida (1950-

I
A conta do meu tempo,
Quantas vezes, sob pressão, obrigada fui dar conta;
Sem tempo para tanta conta,
Quanta conta fiz, que nem percebi o passar do tempo.

Enquanto fazia a conta do tempo,
Deixava o tempo rolar sem fazer conta;
Esquecendo o tempo, mal pudera supor que o que se conta,
É o que se perde e de volta não trás o tempo.

Por conta de tanta conta, ocupava o tempo,
E da exaustão não me dava conta;
Era-me forçoso apenas dar conta em tempo.

Quando vi então, que buscava tempo sem conta,
Para resgatar o passado, esquecido no tempo,
Percebi a conta do que não fizera, ou pudera fazer conta.

II
Se pudesse voltar ao tempo,
E entender o que se conta,
Na certa não gastaria sem conta,
A conta que nos reserva o tempo.

Saberia que a cada qual, fora dado sua conta:
Cada conta com seu tempo;
Conta de passatempo,
Tempo de faz-de-conta.

Início, meio e fim conta o tempo;
A todos, sua conta
Que, a seu tempo, terá de prestar conta.

E, enquanto há roubadores do tempo, sem conta,
Multiplicadores de conta no tempo,
Há quem não faz conta e perde o tempo.

III
Não posso, contudo, saber se minha conta,
Inevitável fora ao tempo,
Pois, envolvida no torvelinho do tempo,
Mal tinha tempo para perceber e fazer conta.

Deixava-me levar pela conta do tempo:
Ora prestava conta,
Ora o tempo levava a conta;
E assim, a conta fazia o tempo.

Tempo perdido na conta,
Na conta que não se conta;
Na conta que consumiu o tempo.

Tempo de contratempo,
Conta que subtraiu o tempo;
Tempo apenas que fêz-de-conta.

IV
Hoje, contudo, o passado tempo,
Faz conta do que se conta;
Espera o futuro sem conta,
Na conta, da contra mão do tempo.

Tempo que a esperança conta,
De um encontro além do tempo,
Com Aquele que é dono do tempo,
E que, de nossas contas, faz tanta conta.

Aquele que deu nova vida ao tempo;
Apagou toda má conta,
Deu início a um novo tempo.

Tempo de renovo que se conta,
Num vaso novo a prova do tempo;
Numa vida eterna, que o tempo não conta.

V
E se o tempo ainda me pedir conta,
Do que fiz, do que deixei de fazer a tempo,
Direi que já não tenho mais tempo,
Para perder tempo em fazer conta.

Que um novo sentido encontrei, para o meu tempo,
E isso é o que se conta;
Não me preocupo em prestar tanta conta,
Se agora eterno é meu tempo.

Do futuro não faço mais conta,
Pensar no passado, não sobra tempo;
O presente é o que se conta.

Não vivo ansiosa com a falta de tempo,
Não preciso mais prestar tanta conta;
Jesus me embala nos Seus braços, todo o tempo.

 Fonte: http://www.webartigos.com/articles/6343/1/A-Conta-Do-Tempo/pagina1.html#ixzz1H8BTujqu

3 comentários:

matheus disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Aline Negosseki Teixeira disse...

Mas tenho certeza Inajá, que teu tempo não foi outro se não aquele que haveria de ter sido... desde a fundação do mundo.

Não vivemos pela sorte, mas pela graça.

achei lindo e de grande sabedoria. lhar para trás por um breve momento e pensar no que valeu para aprendizado, o que valeu para se fazer diferente. Gosto dessa frase:

“Não voltar a fazer determinada coisa é a
essência do mais verdadeiro
arrependimento”
(Martinho Lutero)

e adorei a metrificação de sua última poesia..
bjs
Aline

Inajá Martins de Almeida disse...

Aline querida amiga

Obrigada pelas palavras delicadas e carinhosas. É bom e gratificante sabê-la a ler meus escritos. Um beijo