Chove lá fora. O peito chuva chora. Espaços vazios anseiam presença. E observo. Revisito compartimentos físicos e, dentro de mim, abrem-se brechas ao sentir melancólico e saudoso de momentos que requerem outros momentos.
O passado se distancia. A memória se turva e apaga algumas lembranças; outras tantas vivas e presente se fazem sentir, na mesma intensidade dos pingos que batem: - toque, toque, toque num ritmar frenético, interminável e incansável.
Mural da Saudade Facebook - 06/11/2018
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Eu permaneço chuva, a revirar apontamentos que logo me encontram no calabouço do meu ser. Outros tantos me escrevem e me transportam às linhas, num frenético frenesi de linhas e letras.
E, se fora a chuva, os pingos ou os apontamentos que me trouxeram lembranças saudosas, não sei exatamente, apenas sei que ao estar aqui, neste bailar de dedos entre o som harmonioso do tic tic do teclado, posso me encontrar tantas forem as vezes que voltar a me ler, pois, não fora esta tarde, as minhas memórias mais memoráveis, jamais haveria esse possível encontro e essa sensação de ocupar o tempo que me fora permitido.
Deixei de olhar para a casa vazia, para os compartimentos que se tornaram enormes, para buscar o grande espaço que pode se abrir dentro de meu ser, quando o escrever me pode aproximar das minhas mais queridas e belas lembranças; dos meus mais amados e queridos ausentes, os quais se tornaram tão presentes ao ocuparem espaços dentro de mim, antes vazios, ante o meu olhar melancólico e saudoso.
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Interessante que este texto me traz lembranças tantas que, a cada releitura me aproximo mais das minhas memórias e lembranças, não com aquele sentir saudoso, melancólico, mas como um momento que foi benéfico, para a construção de um presente repleto de novas perspectivas ante o amanhã que poderá me proporcionar olhar para a casa vazia e me sentir completa de informações, as quais puderam preencher meus dias passados, ao mesmo tempo em que me transportar para um futuro totalmente aberto à novos planos e projetos, os quais, sem dúvida, não me abandonam jamais.
Ao reler o texto, ao visualizar a imagem, encontro no meu agora, espaços que me representaram, mas que a mudança necessária, me fez distanciar da casa vazia de companheirismo, do cafezinho na cama, nas manhãs, de leituras compartilhadas a dois, das plantas, dos móveis.
A casa vazia, abriu-me a possibilidade da mudança. O agora me conduziu ao apartamento, que, se não dos sonhos, consigo traz conforto, aconchego, por meio dos espaços configurados para nossos afazeres diários - leitura, escrita, prática do piano.
Ademais, o condomínio pode me envolver num cenário deslumbrante entre flores, árvores, muito verde, donde a cada manhã, tarde ou noite, posso estar entre cores, luzes, vizinhos que, aos poucos vão se tornando familiares às conversas, aos encontros, sem contar os animais que se confraternizam, conversam, cada qual a seu modo.
Posso assim me expressar que a casa se tornou enorme, ante o conjunto de prédios que a compõe, os novos amigos que, a cada dia se acrescenta. Um condomínio aconchegante, a proporcionar paisagem singular.
Sim... A casa vazia tornou-se um apartamento harmonioso e aconchegante; a mudança de novos ares, assim o permitiu.
A companhia da prima irmã, amiga, companheira de trabalho, passeios, conversas infindáveis, passou a ocupar os espaços convívio este formatado ao nosso gosto pessoal.
Assim, nesta manhã de outono - 23 de maio de 2024 - decorridos anos, percebo o quanto é possível se reinventar, quando nos propomos abertos às novas descobertas, às possíveis e necessárias mudanças, a fim de seguir avante até que a eternidade nos requeira o retorno à casa.