Texto de Inajá Martins de Almeida
Há
uns anos atrás, em 2007, precisamente – enquanto Bibliotecária da rede pública
de Bibliotecas, na interiorana cidade paulista de Ribeirão Preto, livros e mais
livros passavam por minhas mãos, para serem processados tecnicamente,
informatizados e organizados nas estantes, para depois, tornarem-se domínio do
público leitor.
Nesse
momento, esse contato físico me levava a desbravar o conteúdo, adentrar ao
universo do autor, conhecer um pouco de seu cotidiano, sua vida, seus gostos,
seus sonhos, suas frustrações.
Fora
o caso do escritor siciliano Giuseppe Tomasi di Lampedusa, que nascido em
Palermo em 1896, não nos deixara vasta obra – a mim não importava, posto não pudera
encontrar máxima melhor que direcionasse o meu caminhar futuro.
Em
seu livro Os Contos chama-me atenção o fator registro de nossas
memórias. Imprescindíveis registros às memórias futuras.
A
partir desse momento, torno minhas suas palavras. Passo a perceber e dar
importância maior aos fatos cotidianos, que muitas vezes fortuitos foram ao meu
olhar. Volto-me aos registros das cenas presentes com mais assiduidade.
Tento, assim, resgatar o passado que,
gradativamente, vem falar de mim.
Percorrendo
locais de sua infância, a casa natal, por ele desenhada, busca levar o leitor a
um cenário bucólico. A aristocracia em que nascera, a qual lhe outorgara o
título de conde, já não lhe era mais permitida, posto perdas várias, mas o
registro é marcado por uma narrativa contagiante, que nos remete a uma época e
lugar não desconhecidos de nós – a velha Europa.
Quantos
de nós não percorremos vales e montanhas, rios e desertos áridos em algum
momento de nossas vidas. A diferença é que uns deixaram registros outros não.
Penso
até que Lampedusa estivesse num momento de pura amargura ao escrever as
palavras iniciais, com uma frase forte: “ao
encontrarmo-nos no declínio da vida”. Talvez até estivesse em sua fase
derradeira; entretanto, imagino sim que o declínio não fosse o término de sua
existência, posto que vem a falecer em 1957 e o livro talvez fora escrito muito
antes - quiçá.
Bem,
este é o leitor/bibliotecário. Quer adentrar as entrelinhas, os pensamentos do
próprio autor. Triste ou não, amargurado pelas adversidades, ou quem sabe, lega-nos
uma máxima de uma veracidade inigualável.
Também
imagino o quão benéfico seriam nossas memórias escritas, para que gerações
futuras, aquelas que não puderam nos ver, nos conhecer pessoalmente, pudessem
saber de nós através das linhas: “o
material acumulado... teria valor inestimável”.
E adoto a frase, com algumas ressalvas apenas, as
quais encabeçam muitos blogs que pudemos criar posteriormente à leitura.
"Ao
encontrarmo-nos no declínio da vida , é preciso procurar reunir a maior parte
das sensações que perpassaram esse nosso organismo. Poucos conseguirão
construir assim uma obra prima (Rousseau, Stendhall, Proust), mas todos
deveriam poder preservar, desse modo, algo que sem esse pequeno esforço
perderia-se para sempre. Manter um diário ou escrever, em certa idade, as
próprias memórias deveria ser obrigação “imposta pelo estado”: o material
acumulado após três ou quatro gerações teria valor inestimável. Resolveria
muitos problemas psicológicos e históricos que afligem a humanidade. Não existe
memória, embora escritas por personagens insignificantes, que não apresentem
valores sociais e pitorescos de primeira ordem”. (Tomasi
di Lampedusa - Os Contos)
CAMINHOS... LEMBRANÇAS... MEMÓRIAS...
Caminhos
Caminhos que quisemos trilhar.
Caminhos que forçados fomos trilhar.
Caminhos que ao menos quiséramos trilhar.
Lembranças
Lembranças que fizeram nosso caminhar
Lembranças que forjaram nosso caminhar
Lembranças que não nos deixam caminhar.
Memórias
Memórias a nos encontrar
Memórias a nos encantar
Memórias a nos embalar
Pelos caminhos - caminhamos
Por meio de lembranças - revivemos
Através das memórias - registramos
Pelos caminhos nos encontramos
Pelas lembranças nos avaliamos
Pelas memórias nos escrevemos
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A única mudança permitida é aquela sugerida pelo príncipe de Falconeri: tudo deve mudar para que tudo fique como está, frase amplamente divulgada em todo o mundo.
Tomasi, nascido em Palermo, era filho de Giulio Maria Tomasi, príncipe de Lampedusa, e Beatrice Mastrogiovanni Tasca de Cutò. Tornou-se o único rebento do casal após a morte (por difteria) de sua irmã. continue em....
Um comentário:
"Também imagino o quão benéfico seriam nossas memórias escritas, para que gerações futuras, aquelas que não puderam nos ver, nos conhecer pessoalmente, pudessem saber de nós através das linhas: “o material acumulado... teria valor inestimável”."
Um fato importante e belamente escrito! Não é a toa que a escrita deixou para trás a Pré-História :)
Gostei, de coração, do seu blog! Parabéns! Sinta-se a vontade para ler o meu também: www.esculpindome.blogspot.com.br
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