Fernando Pessoa se incorpora em Alberto de Campos, quando a sentir a dor de uma sociedade do seu tempo, com suas mazelas, suas exigências.
Essa era a década de 30, o ano registra 1934.
Um homem se apresenta desgastado, querendo algo, não sabendo exatamente o quê.
Pergunto-me então: - não estaríamos nós vivendo essa mesma ansiedade? Essa busca inconstante? Esse querer sem sentido?
Que nos coloca até filosoficamente mortos perante um vazio? E nos enchemos de íssimos, íssimos, íssimos a nos irmanar ao cansaço do autor.
Belíssimo poema. Podemos refletir muito. Aqui o "eu poético" pode incorporar qualquer um de nós que lemos, que sentimos, que interpretamos, que vivemos e ansiamos meios para minimizar o cansaço inexplicável.
comentários de Inajá Martins de Almeida
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O QUE HÁ
O que há em mim é sobretudo cansaço -
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas -
Essas e o que falta nelas eternamente - ;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...
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O poema “O QUE HÁ” do heterônimo de Fernando Pessoa mais representativo do Modernismo português, Álvaro de Campos, desde a estética, do ponto de vista visual, apresenta versos livres, uma desigualdade de versos por estrofe e as rimas externas (quando existem) não obedecem a uma cadência rimática estruturada em todo texto. Além disso, conforme o conteúdo semântico, o “eu-lírico” mostra-se cansado diante da realidade em que vive...continue lendo
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PESSOA, Fernando. Obra poética. (Poesias de Álvaro de Campos). Rio de Janeiro,: José Aguilar, 1969, p.393-394
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