________________________________________


"Entre livros nasci. Entre livros me criei. Entre livros me formei. Entre livros me tornei. Enquanto lia o livro, lia-me, a mim, o livro. Hoje não há como separar: o livro sou eu - Bibliotecária por opção, paixão e convicção".

Lemos porque a necessidade de desvendar e questionar o desconhecido é muito forte em nós”

"O universo literário é sempre uma caixinha de surpresas, em que o leitor aos poucos vai recolhendo retalhos. Livros, textos, frases, poemas, enfim, variadas formas de expressão que vão compondo a colcha de retalhos de uma vida entre livros. É o que se propõe".

Inajá Martins de Almeida

assim...

"Quem me dera fossem minhas palavras escritas. Que fossem gravadas num livro, com pena de ferro e com chumbo. Para sempre fossem esculpidas na rocha! (Jó 19:23/24)

________________________________________________________________

“Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância.”

Fernando Pessoa - Poeta e escritor português (1888 - 1935)

____________________________________________________________________

quinta-feira, 1 de março de 2012

O QUE HÁ - Alberto Campos

Fernando Pessoa se incorpora em Alberto de Campos, quando a sentir a dor de uma sociedade do seu tempo, com suas mazelas, suas exigências. 
Essa era a década de 30, o ano registra 1934. 
Um homem se apresenta desgastado, querendo algo, não sabendo exatamente o quê. 
Pergunto-me então: - não estaríamos nós vivendo essa mesma ansiedade? Essa busca inconstante? Esse querer sem sentido? 
Que nos coloca até filosoficamente mortos perante um vazio? E nos enchemos de íssimos, íssimos, íssimos a nos irmanar ao cansaço do autor. 
Belíssimo poema. Podemos refletir muito. Aqui o "eu poético" pode incorporar qualquer um de nós que lemos, que sentimos, que interpretamos, que vivemos e ansiamos meios para minimizar o cansaço inexplicável.
  
comentários de Inajá Martins de Almeida
___________________________________

O QUE HÁ

O que há em mim é sobretudo cansaço -
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas -
Essas e o que falta nelas eternamente - ;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...

__________________
O poema “O QUE HÁ” do heterônimo de Fernando Pessoa mais representativo do Modernismo português, Álvaro de Campos, desde a estética, do ponto de vista visual, apresenta versos livres, uma desigualdade de versos por estrofe e as rimas externas (quando existem) não obedecem a uma cadência rimática estruturada em todo texto.  Além disso, conforme o conteúdo semântico, o “eu-lírico” mostra-se cansado diante da realidade em que vive...continue lendo
_______________________________________

PESSOA, Fernando.   Obra poética.   (Poesias de Álvaro de Campos).   Rio de Janeiro,: José Aguilar, 1969, p.393-394

Nenhum comentário: