Em mãos O PEREGRINO. Há tempo passava-me sua leitura, porém, outras eram colocadas em seu lugar.
Quem sabe pela longa espera, demoro-me a apreciá-lo. Faço então um breve contato físico. Toco o livro todo; sinto a tessitura do papel, a cor, o formato; aprecio a capa, o nome do autor em tipo itálico, a imagem central, pequena, em tons fortes, obra prima de Edward Harrison May (1824-1887) - Christian at the Cross - contrastando com a marca d'água e a cor discreta da capa e contra-capa.
O título nos dá a perceber que somos peregrinos em busca de nossa mansão espiritual – nossa verdadeira morada.
A leitura técnica é feita observando cada detalhe: orelhas, página de rosto, ficha catalográfica, dados gráficos, o sumário, o prefácio...
Degusto uma a uma as palavras de seu prefaciador e tradutor Eduardo Pereira e Ferreira e detenho-me numa palavra "transcriação" e maravilho-me, quando se faz porta voz do autor que nos convida a leitura de "seu livro com a cabeça e o coração" e, como objetivo, oferece uma transcriação da apologia do autor.
Absorvo e abstraio alguns versos e me prostro ante a destreza da escrita que, num período conturbado, de prisões, lutas interiores, questionamentos vários, o autor em cárcere (1675) se vê a tecer, em parelhas ritmadas, as estrofes de sua composição poética:
Quando no início, peguei da pena
A escrever, mal imaginava a cena,
Que fora compor assim um livrete.
Não, pensava em outro motete,
Mas, já quase concluído – por quê, não sei,
Sem me dar conta, a este me atirei.
...
O livro em que me debruço a escrever.
E assim fiz, sem ter ainda ideia distinta
De assim exibi-lo a todos, papel e tinta.
Só pensava em fazer nem sei quê;
Nem me esforcei, portanto, não vê?
Por agradar ao próximo, não,
Pois o fiz para mim mesmo, adulão.
...
Assim, pena ao papel, com prazer tanto,
Logo vazei as ideias em preto e branco.
Pois sabendo já o método, todo aceso,
Arranquei e tudo me veio; e, teso,
Escrevi até afinal vir a obra ao lume
Essa grandeza de doce, fino perfume.
...
Brotam do mesmo livro os raios de luz e o brilho
Que transforma mesmo a noite mais escura em idílio?
...
E agora, antes ainda de largar minha pena,
Mostrarei o valor do meu livro nessa arena.
...
Este livro perante teus olhos traceja
O homem que ao prêmio perene almeja;
...
Este livro de ti fará verdadeiro viajante.
E se por ele te deixares guiar adiante,
Até a Terra Santa te levará, nas monções,
Desde que compreendas as suas orientações.
...
Em palavras tais está este livro escrito,
Que até aos lânguidos desperta o grito.
...
Queres tu mesmo ler, sem sequer saber o quê,
Sabendo, porém, por essas linhas mesmas que lês,
Se estás ou não abençoado? Ah, vem então,
E abre meu livro, uma só mente, um só coração”.
...
John Bunyan (1628-1688)
___________________________
E permaneço extasiada, olhos fixos, mente arguta a sorver as palavras e a pensar em seu autor, vivendo numa época em que as perseguições a ideias contrárias ao estabelecido da época eram levadas as condições extrema.
Este, então, inicia seu relato no cárcere em 1675. Em 1678 a obra é lançada em Londres.
Assim, decorridos 333 anos de sua primeira edição (1678-2011), cá estou eu a ler esta que se tornou uma das obras mais vendidas em todo o mundo.
À mente me vem Jeremias 33:3 quando :
“Invoca-me, e eu te responderei, e te direi coisas grandes e ocultas que tu não sabes...”
Creio que muito ainda terei a escrever no decorrer desta leitura. Coisas ocultas me serão reveladas. Acompanhe-me caro leitor.
__________________
comentários e transcrições de Inajá Martins de Almeida
(*) Jefferson Magno Costa - texto referenciado
________________
Bunyan, John. O peregrino. / John Bunyan. Tradução Eduardo Pereira e Ferreira. – São Paulo: Mundo Cristão, 2006.
2 comentários:
Olá Inajá!
Achei seu blog meio por acaso!
Gostaria de dizer que também sou um aficcionado por livros, por literatura, por cultura em geral.
Sobre O Peregrino, é um livro mto importante pra mim. Até pq, já o encenei aqui no Teatro Municipal de Mauá, fazendo justamente o papel principal.
Foi uma experiência inesquecível, sem dúvidas!
Caso queira, veja algumas fotos no meu blog: avantecultura.blogspot.com
E pode deixar, que virei aqui mais vezes!
Gde beijo!
Luiz
Creio que nada nos vem ao acaso. Obrigada pela visita, volte sempre, participe, indique. Vi seu blog e achei ótimo também. Quem sabe você possa trazer a peça para São Carlos. Adorei. O livro é maravilhoso. abraços e até mais
Postar um comentário