Um homem, — era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno, —
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,
Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.
Escolheu o soneto... A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.
E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
"Mudaria o Natal ou mudei eu?"
Na década de 70, quando então trabalhava na biblioteca David Santos, no Sindicato dos Contabilistas de São Paulo, um soneto me encontra e jamais de mim se aparta.
Não posso precisar de onde ele viera, quem o trouxera, apenas sei que desse dia em diante houve uma grande transformação em mim. Já não mais conseguia enxergar o natal da mesma forma.
O tempo passou, o registro daquele encontro não foi possível e a busca foi incessante, até que, um dia, a internet me encontra e lá estava ele, não apenas um mais vários, poderia ser escolhido em sites diversos - Soneto de Natal de Machado de Assis.
Que maravilhoso encontro.
Sim caro amigo escritor, os tempos mudaram, se transformaram, trouxeram novos veículos de comunicação. Enriqueceram-nos por vários ângulos, porém, empobreceram-nos em outros tantos, mas o que sei somente é que tentei colocar minhas palavras inspiradas em suas - caro poeta, brilhante escritor.
Perdoe-me por não conseguir o esmero da rima, da colocação dos versos, mas foi o melhor que pude absorver.
Esse encontro somente foi possível pois a mudança ocorrera.
Assim, não há dúvidas de que mudamos realmente dia após dia, o que também é necessário, porque afinal:
"Mudaria o natal ou mudei eu"
MUDANÇAS
Inajá Martins de Almeida
Uma mulher - retalhos de lembrança
Do natal, noite fria.
O céu azul, raios de luar, a poesia
Traz para seu coração, bonança.
De vazias mãos se lança ao verso.
Quer para o papel transportar
A memória, já quase a se apagar,
Na contramão do metro, adverso.
E o soneto busca as rimas, enquanto a pena
Vacila e rodopia, entre a inspiração
Do momento e a saudade que sente
Daquele frio natal - noite nazarena!
E, do passado, a buscar a criança, em vão,
No presente encontra a mulher - seu melhor presente!