domingo, 27 de novembro de 2011

LITERATURA: leitores e leitura - Marisa Lajolo

Nascida entre livros e leitores, o assunto não me farta, tampouco se esgota. É o caso deste que ora deixo um comentário. É um olhar a partir do meu ponto de vista.

Bibliotecária, jamais aventuro-me à leitura sem contudo um breve passar de olhos técnicos em todas as informações preliminares: capa, contra-capa, orelhas, folha de rosto, etc...

É a dedicatória que me toma um tempo considerável. É a dedicatória que me leva a transcrevê-la neste espaço, quando a autora declina:

"Este livro é dedicado a meus alunos, tantas vezes meus mestres.
Queridos discípulos e discípulas, tão insubstituíveis na formulação de questões, tão impacientes e saudavelmente polêmicos na discussão de problemas! E, sobretudo, sempre tão solidariamente presentes ao longo de cursos, pesquisas, corredores e internet!

E, do começo ao final do livro, a escritora me leva ao mundo encantado e inquiridor do que seja literatura.

São nossos textos considerados literários? Pode ser considerado literatura obras engavetadas que não são de conhecimento e domínio público? Afinal o que é literatura?

Percebo que desde minhas aulas na Faculdade de Biblioteconomia e Documentação de São Carlos, Dona Carminda Nogueira de Castro Ferreira, já nos levava a desbravar o universo literário, o qual meus anseios de jovem ávida pelos poemas, pelos romances melodiosos, embevecia-me ante suas vidas, muitas vezes repletas de dores, sofrimentos, saudades, paixões. Épocas em que apenas em nossas  fantasias podíamos contemplar e sermos co-autores de tantas obras que desfilavam durante as magistrais aulas.

Neste livro Marisa resgata em mim o gosto pelas letras, pelas linhas. Os livros bailam ao meu redor, eu que os tive em mãos, delicadamente arranjados nas estantes, milimetricamente etiquetados - Ah! lembranças que se vão e que deixam saudades.

Sinto, agora,  forte desejo de também poder ocupar um espaço numa estante de biblioteca, quando a escritora latente esboça suas próprias linhas. Não com a preocupação de ser literatura ao pé da letra, aos moldes acadêmicos, mas tenho sim o gosto de poder me ver envolvida com tantos autores em minhas leituras, sentindo o gosto de recriar sua obra sob um ponto que pode ir além da vista.

Que delícia saber que "discutir literatura é abrir os olhos e ouvidos, e olhar e ouvir em volta, ler livros, meditar sobre as frases pintadas a spray em muros e edifícios da cidade, e fazer a eles a pergunta: o que é literatura?  


Saber então que fazemos parte daqueles em que: "seus nomes são desconhecidos, suas obras são difíceis de serem encontradas, não constam das bibliotecas, ninguém fala delas. Eles imprimem às vezes seus próprios livros e não encontram leitores para além da família e dos amigos mais próximos".


Mas, também é bom saber que ainda que não consideradas literatura, como aos moldes estabelecidos, percebemos a satisfação de poder estar aqui contribuindo, para que a palavra seja levada aos quatro cantos, através deste veículo de informação, que tanto facilita aos anônimos não se tornarem tanto anônimos assim, e aos que gostam de escrever, não se sentirem tanto sem leitores, porque é isto que a literatura requer - que haja alguém que a escreva e alguém que a leia, daí ser ou não literatura é somente questão de ser ou não ser.

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Lajolo, Marisa   /  Literatura: leitores e leitura   /   Marisa Lajolo   -   São Paulo: Moderna, 2011.

4 comentários:

  1. Penso que no Brasil o autor mais conhecido é o desconhecido, como citado no livro. Aquele que guarda seus escritos não publica, o grafiteiro, o pichador e o maior de todos o A.D, o autor desconhecido.
    Elvio

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  2. Olá caro amigo.
    Muito bem lembrado.
    Obrigada pelas palavras sempre.
    Podemos ser desconhecidos, mas nossos escritos não.
    Ainda que desconhecido ele bem sabe que é dele que se fala, ainda que por bem ele se cala.
    Penso que nós estamos a sair do anonimato.

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  3. Inajá... é muito emocionante pra nós, filhos de D. Carminda, ver como ela é lembrada, e com muito carinho e amor, por você...
    Obrigada, Inajá... isso nos faz crer, cada vez mais, como ela foi sábia em suas colocações e como isso ficou gravado nas pessoas que ouviam o que ela dizia!!!!

    Com amor, querida!!!! Obrigada mesmo!

    Rosa

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  4. Rosa
    Que bom encontrá-la aqui.
    Saiba que Dona Carminda jamais é e será esquecida por mim.
    Atualmente participo de um projeto para jovens aprendizes, onde tenho a oportunidade de passar informações, momento em que oriento a encontrar nos retalhos que a vida nos proporciona, motivo para tecer colchas durante a jornada.
    Foi assim que nossa magistral professora deixou em mim esse incentivo maior.
    Jamais me apartei dos retalhos.
    Sabe que até já estou a colher frutos, pois alguns se referem eles.
    Maravilhosas lembranças.
    Um beijo carinhoso. Saudade.

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