Que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João
Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi
De mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende de pressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
Panaméricas de áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo Quilombo de Zumbi
E novos baianos passeiam na tua garoa
E os novos baianos te podem curtir numa boa.
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No início de 1973 retornei a São Paulo e com as avenidas São João e Ipiranga logo me deparei.
Recém formada em Biblioteconomia, a cidade da qual me apartara sete anos antes, agora me recebia de braços abertos para a jornada profissional que se iniciava.
Na rua XV de novembro transitava entre os prédios antigos da cidade e diariamente as portas do Banco Francês e Brasileiro abriam-se para mim.
Em pouco tempo o viaduto do chá, bem na rua Formosa, eu multiplicaria minhas horas de trabalho, quando então era contratada como a primeira bibliotecária do Sindicato dos Contabilistas.
Belas memórias. Realmente alguma coisa acontece quando cruzamos a Ipiranga com a São João.
comentários: Inajá Martins de Almeida
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