quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O PEREGRINO - John Bunyan


Em mãos O PEREGRINO. Há tempo passava-me sua leitura, porém, outras eram colocadas em seu lugar.



Quem sabe pela longa espera, demoro-me a apreciá-lo. Faço então um breve contato físico. Toco o livro todo; sinto a tessitura do papel, a cor, o formato; aprecio a capa, o nome do autor em tipo itálico, a imagem central, pequena, em tons fortes, obra prima de Edward  Harrison May (1824-1887) - Christian at the Cross - contrastando com a marca d'água e a cor discreta da capa e contra-capa.


O título nos dá a perceber que somos peregrinos em busca de nossa mansão espiritual – nossa verdadeira morada. 


A leitura técnica é feita observando cada detalhe: orelhas, página de rosto, ficha catalográfica, dados gráficos, o sumário, o prefácio... 


Degusto uma a uma as palavras  de seu prefaciador e tradutor Eduardo Pereira e Ferreira e detenho-me numa palavra "transcriação" e maravilho-me, quando se faz porta voz do autor que nos convida a leitura de "seu livro com a cabeça e o coração"  e, como objetivo, oferece uma transcriação da apologia do autor.


Absorvo e abstraio alguns versos e me prostro ante a  destreza da escrita que, num  período  conturbado, de prisões, lutas interiores, questionamentos vários, o autor em cárcere (1675) se vê a tecer, em parelhas ritmadas,  as estrofes de sua composição poética:



Quando no início, peguei da pena

A escrever, mal imaginava a cena,

Que fora compor assim um livrete.

Não, pensava em outro motete,

Mas, já quase concluído – por quê, não sei,

Sem me dar conta, a este me atirei.

...

O livro em que me debruço a escrever.

E assim fiz, sem ter ainda ideia distinta

De assim exibi-lo a todos, papel e tinta.

Só pensava em fazer nem sei quê;

Nem me esforcei, portanto, não vê?

Por agradar ao próximo, não,

Pois o fiz para mim mesmo, adulão.

...

Assim, pena ao papel, com prazer tanto,

Logo vazei as ideias em preto e branco.

Pois sabendo já o método, todo aceso,

Arranquei e tudo me veio; e, teso,

Escrevi até afinal vir a obra ao lume

Essa grandeza de doce, fino perfume. 

...

Brotam do mesmo livro os raios de luz e o brilho

Que transforma mesmo a noite mais escura em idílio?

...

E agora, antes ainda de largar minha pena,

Mostrarei o valor do meu livro nessa arena.

...

Este livro perante teus olhos traceja

O homem que ao prêmio perene almeja;

...

Este livro de ti fará verdadeiro viajante.

E se por ele te deixares guiar adiante,

Até a Terra Santa te levará, nas monções,

Desde que compreendas as suas orientações.

...

Em palavras tais está este livro escrito,

Que até aos lânguidos desperta o grito.

...

Queres tu mesmo ler, sem sequer saber o quê,

Sabendo, porém, por essas linhas mesmas que lês,

Se estás ou não abençoado? Ah, vem então,

E abre meu livro, uma só mente, um só coração”.

...

John Bunyan (1628-1688)


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E permaneço extasiada, olhos fixos, mente arguta a sorver as palavras e a pensar em seu autor, vivendo numa época em que as perseguições a ideias contrárias ao estabelecido da época eram levadas as condições extrema. 


Este, então,  inicia seu relato no cárcere em 1675. Em 1678 a obra é lançada em Londres.

  


Assim, decorridos 333 anos de sua primeira edição (1678-2011), cá estou eu a ler esta que se tornou uma das obras mais vendidas em todo o mundo.


À mente me vem Jeremias 33:3 quando :


“Invoca-me, e eu te responderei, e te direi coisas grandes e ocultas que tu não sabes...”


Creio que muito ainda terei a escrever no decorrer desta leitura. Coisas ocultas me serão reveladas. Acompanhe-me caro leitor.

    


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comentários e transcrições de Inajá Martins de Almeida

(*) Jefferson Magno Costa - texto referenciado 

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Bunyan, John.   O peregrino.   /  John Bunyan.  Tradução Eduardo Pereira e Ferreira. – São Paulo: Mundo Cristão, 2006.

2 comentários:

  1. Olá Inajá!

    Achei seu blog meio por acaso!
    Gostaria de dizer que também sou um aficcionado por livros, por literatura, por cultura em geral.

    Sobre O Peregrino, é um livro mto importante pra mim. Até pq, já o encenei aqui no Teatro Municipal de Mauá, fazendo justamente o papel principal.

    Foi uma experiência inesquecível, sem dúvidas!

    Caso queira, veja algumas fotos no meu blog: avantecultura.blogspot.com

    E pode deixar, que virei aqui mais vezes!

    Gde beijo!

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  2. Luiz

    Creio que nada nos vem ao acaso. Obrigada pela visita, volte sempre, participe, indique. Vi seu blog e achei ótimo também. Quem sabe você possa trazer a peça para São Carlos. Adorei. O livro é maravilhoso. abraços e até mais

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Caro leitor agradeço pela visita e comentário, porém ele somente será publicado após aprovação.