Cartas sempre nos deixam alegres. Recebê-las. Remetê-las. Quem há de discordar disso! Porém, a brevidade do tempo, as facilidades tecnológicas acomodaram-nos. Distanciaram-nos. Não para Ana Clara, uma garotinha de apenas 8 anos que não se intimida ante o ato de escrever e remeter uma missiva.
O facebook fora o facilitador. O endereço que desconhecia. O desejo ardente de colocar seus sentimentos num livro - escritora "in potencial" a se manifestar. A se expressar.
E eis que numa tarde de julho, a caixa do correio se vê repleta pelo imenso envelope a saltar-lhe, ficando a mostra.
Mãos trêmulas. Cuidado. Respeito e carinho ao envelope que guarda um sonho de criança, sonho a clamar ser compartilhado.
Coração a palpitar. Mãos trêmulas. Vagarosas empenham-se a árdua tarefa de abrir aquelas bordas que foram coladas com esmero.
A surpresa. Há outro envelope. Cuidadoso. Trabalhado. Uma pintura, mais representando um bordado à receptora que aprecia detalhe por detalhe. Sem pressa almeja viver intensamente aquele momento mágico a seus olhos.
E sonha. E imagina os anos transcorridos. Aquela "bebezinha" que no mesmo dia do seu aniversário - 27 de março - nascera.
E percebe a força do amor. Esse sentimento inexplicável. O amor!
Agora é Ana Clara que se expressa. Seu coraçãozinho tem olhos. É ele - o coração - que lhe direciona às linhas. Ele sabe que o amor da tia Inajá para com Ana Clara é imenso, forte, não percebe distância.
Ah! amor. Sentimento inexplicável
Noite anterior Ana Clara diz ter a ideia sobre o livro, quando a tia lhe diz sobre o casaquinho de crochê que tecera.
Radiante, sem saber como este seria, passa a imaginá-lo - claro diz o texto.
E, através da tela do computador, quem supor pudera reconhecer as palavras, as quais teceriam o texto. O argumento. O desenrolar da história.
Ela que já se apresentava como leitora assídua, revela o gosto pela escrita.
- Já tenho alguns livros escrito - confessa entre uma escrita e outra no facebook. À sua interlocutora - a tia - uma história dedicaria.
Eis que! Passara minha vida entre livros, agora seria a protagonista de um. Quando imaginar me fora possível.

O silêncio respeitoso do profissional. A caixa de correio. O envelope pardo. Apenas aguardam.
Agora a surpresa. Em mãos - o livro. Sensação inexplicável.
Olhos marejados a percorrer as linhas.
Letrinhas bem trabalhadas. Alguns errinhos de português deixam-se levar pela perfeição da imaginação, da escrita, dos desenhos, da formatação, dos detalhes que se encontram nos livros editorados.
E o texto começa como toda história deve começar: - Era uma vez...
Agora é a leitora que agradece a dádiva de ser agraciada com a sobrinha neta.
Ao sobrinho pudera embalar nos braços. Este a presenteia.
Gerações embaladas pelo amor.
Ana Clara.
Pequena escritora desponta.
Alinhava sonhos.
Tece as linhas do imaginário.
Um casaquinho de crochê.
Pontos tecidos
alcançaram aquele coraçãozinho
de menina sonhadora.
Ponto a ponto
a combinar cores:
rosa,
rosa e branco mesclado,
branco
o casaquinho anseia o corpinho
da menina que sonha
e faz a tia Inajá sonhar.
o casaquinho anseia o corpinho
da menina que sonha
e faz a tia Inajá sonhar.
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- fotos, montagem, captura de imagens e texto : Inajá Martins de Almeida
- a partir da história escrita e registrada em livro: Ana Clara